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05/03/2018

Nos anos 90, um cavalo brasileiro virou lenda do hipismo por seu tamanho.

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Quem não tem muita intimidade com o hipismo nunca deve ter ouvido falar de um cavalo chamado Zurkis. Mas é só chegar perto de alguém que conhece um pouco a história do esporte e mencionar o nome para que um sorriso apareça nos lábios.

Não é para menos. O cavalo que ficou famoso ao ser montado por Vitor Alves Teixeira conseguiu títulos que poucos animais conquistaram no Brasil. Com um detalhe surpreendente: nascido no Brasil, ele tinha apenas 1,53m de altura.

O tamanho é surpreendente por dois aspectos. Normalmente, Zurkis competia com rivais bem maiores. Baloubet du Rouet, campeão olímpico com Rodrigo Pessoa em Atenas-2004 e tricampeão mundial, por exemplo, tem 1,70m. Além disso, Zurkis encarava com naturalidades obstáculos de 1,50m, quase seu tamanho total, levando um cavaleiro nas costas.

“Foi o cavalo que mais marcou a minha carreira. Na minha opinião, é o melhor cavalo que já foi criado no Brasil”, fala Vitor Alves Teixeira, que montou Zurkis em duas medalhas de Jogos Pan-Americanos (ouro por equipes e bronze no individual em Havana-1991) e nos Jogos Equestres de 1992, em que terminou em 12º lugar.

Quem viu o cavalinho em ação guarda boas memórias. “Era um cavalo pequeno, que formava um conjunto fantástico com o Vitor. E, sem dúvida, merce muito respeito. Ele era pequeno e grande ao mesmo tempo. Tinha um coração, uma vontade gigante dentro dele. É impossível dizer como ele conseguia fazer o fazia”, lembra José Roberto Reynoso, um dos destaques do Longines CSI-W Indoor da Hípica Paulista, que está sendo disputado nesta semana em São Paulo.

“Não é comum ver cavalos tão pequenos saltando. Mas o Zurkis mostrava que tamanho não é documento. Compensava a falta de altura com muita coragem ao encarar os obstáculos”, conta Romeu Ferreira Leite Jr, diretor de salto da Hípica Paulista. “Existem outros cavalos pequenos que saltam como ele. A australiana Edwina Alexander, por exemplo, montava Itot du Chateau, que era pouco maior do que o Zurkis (1,57m contra 1,53m do animal brasileiro). E foi líder do ranking por quase um ano inteiro”, completa.

Zurkis, porém, era especial não só pelo tamanho, mas também pelo local onde nasceu: no Brasil. Baloubet, por exemplo, era francês. Itot du Chateau também. O atual ouro olímpico também foi conquistado com uma montaria francesa. O mais alto nível do esporte no planeta é dominado por animais europeus. Ver um cavalo que não nasceu por lá vencendo concursos é raro. Zurkis faz parte de um grupo seleto de animais que quebraram essa barreira.

Álvaro Afonso de Miranda Neto, o Doda, e Andrpé Johanpetter, por exemplo, chegaram ao bronze olímpico de Atlanta-1996 com dois cavalos nacionais. Doda montava Aspen e André, Calei Joter. “A diferença entre o Brasil e a Europa é a quantidade de cavalos. Lá, são 300 mil cavalos criados para o salto. No Brasil, temos 700 ou 800. É muito mais fácil achar um animal com potencial em universo de 300 mil do que em um ambiente com menos de mil cavalos”, explica Romeu, que também é criador: Aspen, de Doda, era seu.

Desde então, porém, o número de cavalos nascidos por aqui caiu nas equipes brasileiras. No último Mundial, por exemplo, todos os animais eram europeus. “Não podemos dizer, hoje, que temos cavalos brasileiros para disputar as Olimpíadas. Mas temos gente pensando nisso e fazendo um trabalho sério para mudar esse cenário. A criação melhorou muito e, hoje, vamos bons cavalos saltando por aqui. Todos torcemos para que os criadores consigam chegar à excelência que é necessária para isso”, completa Romeu.

O fim da vida de Zurkis, no entanto, não foi tão glamouroso quanto a sua história nas pistas. Pouco depois do ápice de resultados, o cavalo passou a sofrer com um problema crônico nos cascos e teve de ser sacrificado. Foi enterrado no Cepel, um centro de treinamentos de hipismo em Belo Horizonte. Alguns anos depois, porém, os restos de um dos melhores cavalos que já nasceu no Brasil foram perdidos durante uma reforma.


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